quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

As morenas gostosas de Gilberto Freyre

"O longo contato com os sarracenos deixava idealizada entre os portugueses a figura da moura-encantada, tipo delicioso de mulher morena e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual - sempre de encarnado, sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios ou nas águas das fontes mal-assombradas - que os colonizadores vieram encontrar parecido, quase igual, entre as índias nuas e de cabelos soltos do Brasil. Que estas tinham também os olhos e os cabelos pretos, o corpo pardo pintado de vermelho, e, tanto quanto as nereidas mouriscas, eram doidas por um banho de rio onde se refrescasse sua ardente nudez e por um pente para pentear o cabelo. Além do que, eram gordas como mouras. Apenas menos ariscas: por qualquer bugiganga ou caco de espelho estavam se entregando, de pernas abertas, aos caraíbas gulosos de mulher. [...]
Pode-se, entretando, afirmar que a mulher morena tem sido a preferida dos portugueses para o amor, pelo menos para o amor físico. A moda de mulher loura, limitada aliás às classes altas, terá  sido antes a repercussão de influências exteriores do que a expressão de genuíno gosto nacional. Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: 'Branca para casar, mulata para foder, negra para trabalhar'[...]

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia  patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1990, p.9-10 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Anarquismo em Kropotkin

"Os anarquistas são os únicos a defender por inteiro o princípio da liberdade. Todos os outros gabam-se de tornar a humanidade feliz mudando ou suavizando a forma do açoite. (...)
Sem açoite, sem  coerção, de um  modo ou de outro, sem o açoite do salário ou da fome, sem aquele do juiz ou do policial, sem aquele da punição sob uma forma ou outra, eles não  podem conceber a sociedade. Só nós ousamos afirmar que punição, polícia, juiz, salário e fome nunca foram, e jamais serão, um elemento de progresso(...)
O anarquista (...) deve fazer sobressair a parte  grande, filosófica, do princípio da anarquia. Deve aplicá-la a ciência, pois, por isso, ele ajudará a remodelar as ideias: ele combaterá as mentiras da história, da economia social, da filosofia, e  ajudará aqueles que já o  fazem, amiúde incoscientemente, por amor à verdade científica, a impor a marca  anarquista ao pensamento do  século.
Deve apoiar a luta e a agitação de  todos os dias contra  opressores e preconceitos, manter o espírito de revolta em toda a parte onde o homem sente-se oprimido e possui a coragem de revoltar-se."
KROPOTKIN, Piotr Alekseievich. O Princípio Anarquista e Outros Ensaios. São Paulo, ed. Hedra.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Hobsbawm e a Bandeira da Revolução

"A Revolução Francesa dominou a história, a própria linguagem e o simbolismo da política ocidental desde sua irrupção até o período que se seguiu à Primeira Guerra Mundial (...) Assim, por quase um século e meio, a bandeira tricolor francesa forneceu abertamente o modelo para as bandeiras da maioria dos Estados recém-independentes ou unificados no mundo: a Alemanha escolheu o preto, o branco e o vermelho; a Itália, verde, branco e vermelho (...) Mesmo na América, as bandeiras que mostram a influência tricolor superam o número das que mostram influência do Norte."
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.