"Permita-me propor a ideia de que, conforme nossos mercados descobrem e respondem àquilo que os consumidores mais desejam, nossa tecnologia se torna extremamente hábil na criação de produtos que correspondam ao nosso ideal fantasioso de um relacionamento erótico, no qual o objeto amado se entrega por completo sem exigir nada em troca, instantaneamente, fazendo que nos sintamos todo-poderosos, sem criar cenas constrangedoras quando é substituído por um objeto ainda mais sexy, sendo então relegado a uma gaveta.
Falando numa perspectiva mais geral, o objetivo definitivo da tecnologia, a telealogia da techné, é substituir um mundo natural indiferente a nossos desejos - um mundo de furacões e dificuldades e corações partíveis, um mundo de resistência - por outro mundo que responda tão bem a nossos desejos a ponto de ser, com efeito, uma mera extensão do ser. Permita-me sugerir, finalmente, que o mundo do tecnoconsumismo é, portanto, incomodado pelo amor verdadeiro, restando-lhe como única escolha responder perturbando o amor.
Sua primeira linha de defesa é transformar seu inimigo em commodity."
FRANZEN, Jonathan. Curtir é Covardia. Jornal "O Estado de São Paulo", caderno Link, segunda-feira 6 de junho de 2011, p. L16.