"A impotência das classes exploradas na luta contra os exploradores gera tão inevitavelmente a fé numa vida melhor de além-túmulo como a impotência dos selvagens na luta contra a natureza gera a fé em deuses, diabos, milagres, etc. Para aquele que toda a vida trabalha e passa necessidades a religião ensina a resignação e a paciência na vida terrena, consolando-o com a esperança da recompensa celeste (...)
O operário consciente moderno, formado pela grande indústria fabril e esclarecido pela vida urbana, afasta de si com desprezo os preconceitos religiosos e deixa o céu à disposição dos sacerdotes e dos carolas burgueses, alcançando uma vida melhor aqui na terra. O proletariado moderno se coloca ao lado do socialismo, que se vale da ciência na luta contra o nevoeiro religioso e liberta os operários da fé na vida de além-túmulo por meio de sua arregimentação para uma verdadeira luta por uma vida terrena melhor.
A religião deve ser declarada um assunto privado - com essas palavras se exprime habitualmente a atitude dos socialistas em relação à religião (...) Exigimos que a religião seja um assunto privado em relação ao Estado (...) O Estado não deve manter conúbio com a religião, e as sociedades religiosas não devem estar ligadas ao poder estatal. Cada pessoa deve ser absolutamente livre para professar qualquer religião que seja ou para não reconhecer nenhuma religião, isto é, para ser ateia, coisa que todo socialista geralmente é. São absolutamente inadmissíveis quaisquer diferenças entre os cidadãos quanto a seus direitos conforme suas crenças religiosas. Deve ser totalmente eliminada até mesmo qualquer referência a uma ou outra religião dos cidadãos em documentos oficiais. (...)
Completa separação entre igreja e Estado - eis a reivindicação que o proletariado socialista apresenta ao Estado e à igreja atuais.(...)
Seria estreiteza burguesa esquecer que o jugo da religião sobre a humanidade é apenas produto e reflexo do jugo econômico que existe dentro da sociedade (...) A unidade dessa luta realmente revolucionária da classe oprimida pela criação do paraíso na terra é mais importante para nós do que a unidade de opiniões dos proletários sobre o paraíso no céu. "
LENIN, Vladimir Ilitch. Socialismo e Religião. Revista Nova Vida n.28, 3 dezembro 1905.