Toda
a vida do gorila negro nomeado burlescamente de "Idi Amin" transcorreu
como um espetáculo para a população da cidade de Belo Horizonte.
Paradoxalmente, ele nunca conheceu seus edifícios por ser cativo de um
decadente presídio chamado zoológico.
Nessa peça, quase todos desfilam como figurantes, divertindo-se, mesmo que por ingenuidade, com a desgraça do grande símio condenado a cumprir o papel de bufão. Com sua morte, a tragicomédia interrompeu-se, deixando uma pergunta vir à tona: de onde teria vindo esse estrangeiro?
Sua documentação apresentou-se incompleta, como reportado em jornal local. Algo comum entre as vítimas de tráfico. Supõe-se que tenha nascido por volta de 1973 em algum lugar da floresta equatorial do Congo - lugar onde a proteção dos animais nunca foi prioridade -, de onde teria sido levado para um zoológico francês. De lá teria sido negociado como um escravo e trazido para Belo Horizonte.
Chegou a essa sua derradeira prisão, da qual nunca mais iria sair, com dois anos de idade. Cumpriu pena maior do que a máxima para os animais humanos que cometeram crimes gravíssimos: 39 anos.
Pela lei das probabilidades, sua mãe deve ter sido morta por caçadores, ocasião em que deve ter se agarrado ao corpo inerte, tornando-se presa fácil para os traficantes oficiais e não oficiais.
Essa história nebulosa é cuidadosamente omitida, criando-se o álibi de que o zoológico é um lugar importante para a "preservação das espécies".
Não só "Idi Amin" foi um dos sofridos bebês gorila afastados precocemente de suas mães, mas também "Dada" e "Cleópatra", falecidas com pouco tempo de chegadas à sociedade do espetáculo. Pudera! Como ele, tiveram que enfrentar o sequestro e as mudanças de cárcere para cárcere; a ausência do aleitamento materno - que costuma, em condições normais, chegar aos 3 anos de idade -; deficiências imunitárias geradas pelo estresse; a barbárie do transporte; o isolamento da sua sociedade de gorilas e da planície africana; o banzo; e, finalizando, a superexposição em ambiente estranho.
"Idi Amin", milagrosamente, sobreviveu, mas perdeu em cheio para o tédio, simbolizado por seu melancólico pneu sempre a tiracolo. Como os demais gorilas em cativeiro, tornou-se tímido, ensimesmado; apegou-se aos tratadores, numa espécie de síndrome de Estocolmo, aquela na qual a vítima, em uma estratégia de sobrevivência, identifica-se com seu captor.
A lógica dos zoológicos obrigou "Idi Amin" a viver em um pan-óptico, a se mover durante toda a sua vida em uma arena circular, onde, de qualquer ponto escolhido, o visitante inoportuno pudesse visualizá-lo. Colocado no centro de risos, caretas, sons incompreensíveis, diariamente, o gorila foi massacrado até tornar-se uma caricatura de si mesmo. Agora, com a cadeira de bobo da corte vaga, ainda querem trazer outro gorila para perpetuar o círculo vicioso dessa tradição nefasta.
Nessa peça, quase todos desfilam como figurantes, divertindo-se, mesmo que por ingenuidade, com a desgraça do grande símio condenado a cumprir o papel de bufão. Com sua morte, a tragicomédia interrompeu-se, deixando uma pergunta vir à tona: de onde teria vindo esse estrangeiro?
Sua documentação apresentou-se incompleta, como reportado em jornal local. Algo comum entre as vítimas de tráfico. Supõe-se que tenha nascido por volta de 1973 em algum lugar da floresta equatorial do Congo - lugar onde a proteção dos animais nunca foi prioridade -, de onde teria sido levado para um zoológico francês. De lá teria sido negociado como um escravo e trazido para Belo Horizonte.
Chegou a essa sua derradeira prisão, da qual nunca mais iria sair, com dois anos de idade. Cumpriu pena maior do que a máxima para os animais humanos que cometeram crimes gravíssimos: 39 anos.
Pela lei das probabilidades, sua mãe deve ter sido morta por caçadores, ocasião em que deve ter se agarrado ao corpo inerte, tornando-se presa fácil para os traficantes oficiais e não oficiais.
Essa história nebulosa é cuidadosamente omitida, criando-se o álibi de que o zoológico é um lugar importante para a "preservação das espécies".
Não só "Idi Amin" foi um dos sofridos bebês gorila afastados precocemente de suas mães, mas também "Dada" e "Cleópatra", falecidas com pouco tempo de chegadas à sociedade do espetáculo. Pudera! Como ele, tiveram que enfrentar o sequestro e as mudanças de cárcere para cárcere; a ausência do aleitamento materno - que costuma, em condições normais, chegar aos 3 anos de idade -; deficiências imunitárias geradas pelo estresse; a barbárie do transporte; o isolamento da sua sociedade de gorilas e da planície africana; o banzo; e, finalizando, a superexposição em ambiente estranho.
"Idi Amin", milagrosamente, sobreviveu, mas perdeu em cheio para o tédio, simbolizado por seu melancólico pneu sempre a tiracolo. Como os demais gorilas em cativeiro, tornou-se tímido, ensimesmado; apegou-se aos tratadores, numa espécie de síndrome de Estocolmo, aquela na qual a vítima, em uma estratégia de sobrevivência, identifica-se com seu captor.
A lógica dos zoológicos obrigou "Idi Amin" a viver em um pan-óptico, a se mover durante toda a sua vida em uma arena circular, onde, de qualquer ponto escolhido, o visitante inoportuno pudesse visualizá-lo. Colocado no centro de risos, caretas, sons incompreensíveis, diariamente, o gorila foi massacrado até tornar-se uma caricatura de si mesmo. Agora, com a cadeira de bobo da corte vaga, ainda querem trazer outro gorila para perpetuar o círculo vicioso dessa tradição nefasta.