quinta-feira, 19 de maio de 2011

Walter Navarro diz o que é o Brasil

"E Tiririca na Comissão de Educação? Renan Calheiros e Jáder Barbalho na de Ética? Nem Pânico, CQC, Casseta & Planeta pensariam nisso...
Uma clássica frase explica bem nosso país de contrastes: no Brasil, puta goza, traficante é viciado, policial rouba, cafetão tem ciúmes, ministro vai à marcha da maconha, pobre é de direita, anarquista pede ordem e progresso, e comunista acredita em Deus...
(...)
Comunistas e petistas no Brasil são o supra-sumo da incoerência e da esquerda festiva: moram em coberturas na praia ou nas montanhas, usam ternos e calças Armani, sonham com Paris, têm carros importados e bebem vinho francês em taças de cristal Strauss!
(...) o Verissimo é que está certo. A gente deveria devolver o Brasil pros índios ou cobrir tudo com uma lona e voltar aos continentes de origem"
(NAVARRO, Walter. Comédias da vida privada que vi da privada. O Tempo, Ano 15, n. 5268, 19/05/2011, caderno Maganize, p. M2.)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Freyre e a presença marcante do negro na formação do brasileiro


“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo (...) a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. (...) Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolão de comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo.” 
(FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. São Paulo: Ed. Global, 2004, p.367).

terça-feira, 10 de maio de 2011

Nelson Rodrigues e Jabor conversam sobre Osama

Osama é o único assunto. Jurei que não escreveria sobre ele, mas esse homem não me sai da cabeça. Aí, resolvi telefonar para o Nelson Rodrigues para ver sua opinião. Disco o telefone preto intergaláctico, pois o Nelson me ajuda a "não" pensar com as falsas luzes do bom senso, das causas e efeitos. O telefone toca. Já ouço as risadinhas dos querubins, em volta de Nelson na nuvem de algodão no céu de estrelas de papel prateado, como nos teatros da praça Tiradentes.

"Nelson... sou eu, o Arnaldo...".

"Você me ligando, rapaz, como um telefonista de si mesmo. Achei que tinha me esquecido...".

"O negócio é o seguinte, Nelson, estou besta com a morte do Osama...".

"Eu também, rapaz... O sujeito acabou de entrar aqui, com guarda-costas e tudo e foi correndo para o paraíso islâmico aí do lado...

Está uma barulheira danada, com todo mundo de camisola gritando só Alá é grande.

Deus-pai não liga muito, mas fica vagamente irritado com esse nome; ele e Alá são iguais.

Com a chegada do Osama, eu resolvi dar uma espiadinha no paraíso deles...
Rapaz, parece o baile do Bola Preta!

Os terroristas são tratados a pão de ló e goiabada.

O Muhammad Atta, aquele chefe suicida do 11 de Setembro, estava deitado numa cama de ouro, com odaliscas do Catumbi rebolando a dança do ventre e, quando o Osama entrou, as mil virgens pularam em cima dele, pedindo autógrafos, macacas de auditório com asinhas... É... Osama é um galã de novela ...

Aí em baixo também; estávamos apaixonados por ele ao avesso e não sabíamos. Eu confesso que acho ele um craque...".

"Como assim?", pergunto, como nos maus diálogos.

"Porque ele criou o primeiro acontecimento do século XXI. Tudo que os russos quiseram fazer, ele fez em meia hora.

E mudou o Ocidente.

A América perdeu a máscara, estavam muito folgados na época... Agora, voltaram como caubóis, mas a vida não será a mesma. Vão continuar procurando bombas em bueiros.

O Ocidente sempre teve o alvo da finalidade, do progresso. O Islã, não; quer o imóvel, a verdade incontestável. Eles não vivem na história; vivem na eternidade. Agora têm os rebeldes árabes; vamos ver se vão preferir a democracia mesmo ou os dogmas assassinos do Osama.
De qualquer modo, os norte-americanos vão ter de incluir a morte em seu dia a dia. Não poderão esquecê-la como sempre tentaram. Ficarão mais orientais, mais fatalistas... Isso pode até ser bom".

"Como assim?", repito na minha obtusidade.

"Rapaz, me admira você não ver isso: para eles, nós somos o mal. Eles são o bem. Aí, a jogada genial do Barack Obama foi ser, também o mal deles. Os cães infiéis atacaram de volta... Você disse uma frase na TV que eu até gostei: Tudo foi cinema. Começou como Godzilla em 2001 e agora acabou como Duro de Matar... Você devia abrir uma lojinha de frases...".

"Quem sou eu, Nelson?...".

"E agora todo mundo tira casquinha da vitória do Obama. Os republicanos berram: Se não fossem nossas torturas, não achavam o homem! Do outro lado, gemem os éticos e idiotas da objetividade: Foi ilegal - e nossos valores?. Esses caras já nascem com uma ética pré-fabricada e não se curvam ao intempestivo da história; não aguentam o mistério do acontecimento. Não veem que o certo e o errado estão misturados. Nietzsche disse: As convicções são cárceres. Os intelectuais têm de aprender a não entender...".

"Mas Nelson, politicamente o momento...".

"O momento é importante sim, porque os ditadores bilionários da Arábia adoravam que os inimigos fossem os norte-americanos, enquanto seus povos miseráveis batiam cabeça ajoelhados no chão... Agora, os árabes acordaram...".

"Nelson, você virou marxista aí no céu...".

"O Marx me chama de reacionário, mas me ouve muito e anda chateado com as bobagens que escrevem sobre ele na academia. Eu disse para ele: Olha, Marx, a burrice é uma força da natureza, feito o maremoto... Ele vive repetindo isso, achou uma graça infinita... Bom sujeito, o Marx...".

"É... mas a história andou para trás...".

"Para com isso, rapaz, a história não existe... Ela foi uma invenção daquele alemão, o tal de Hegel, que, aliás, está ali sentado numa nuvem, chorando lágrimas de esguicho numa cava depressão... O sujeito achava que a história andava para a frente e, de repente, meia dúzia de malucos, cheirando à banha de camelo, transformaram nossa vida num pesadelo humorístico.
Vocês achavam que a vida era movida pelas relações de produção, coisa e tal, mas esqueceram que a história pode ser intempestiva, mutante, como escreveu o Nietzsche, que também anda por aqui, bigodudo, muito sério; disse uma frase genial para mim: A filosofia é um exílio entre montanhas geladas... O Nietzsche é um craque... Sempre que posso, tomo um cafezinho com ele. Nunca saímos da barbárie, pensa bem: tivemos duas guerras mundiais num século. Os alemães queimaram judeus, os norte-americanos derreteram 200 mil em 30 segundos em Hiroshima e Nagasaki. A razão é um luxo de franceses... Aliás, tem um francês inteligente aqui, o Baudrillard. Ele disse: Acabou o universal - agora, só há o singular e o mundial... Bom, né?".

"Mas, o futuro da humanidade...".

"O mundo nunca foi feliz... Esse negócio de felicidade global é invenção do comércio norte-americano... A humanidade dando milho para os pombos na praça de são Marcos é lero-lero... Deus não quer isso. Vai olhar a Bíblia, o Torá; é tudo no olho por olho... Lembra da Inquisição? Deus é violento... (estou falando baixo porque Ele está ali perto, consolando o Hegel)".

"Mas o ser humano...".

"Rapaz... A humanidade é uma ilusão. Tudo que é real é irracional, tudo que é irracional é real. Se o mundo acabar, não se perde absolutamente nada...".

E desligou...

JABOR, Arnaldo. Osama foi para o céu. Coluna publicada hoje no jornal "O Tempo", ano 15, nº 5259, página 19, caderno Entre aspas.
 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Buttin e as origens do Sionismo Político

"Se o sionismo religioso - o Apelo do Sion, nome de uma colina de Jerusalém - passou a dominar os judeus devotos após a destruição do Templo por Titus em 70, o sionismo político começara a manifestar-se (...) agosto de 1897 a carta fundadora do movimento sionista, proclamada no primeiro Congresso Mundial Sionista, reunido em Basiléia. Um jornalista austríaco, judeu assimilado, Th. Herzl, é a alma deste movimento nacionalista, nascido das ideias em voga na época em toda a Europa, mas sobretudo da constatação da existência de pogroms contra os judeus na Rússia e na Polônia, e do desencadear de um anti-semitismo virulento na França, em 1894, com o caso Dreyfus.
O seu programa é formulado desta maneira: o sionismo tem por objetivo a criação na Palestina de uma pátria para o povo judeu, garantida pelo direito internacional.
(...)
Mas Herzl (...) tinha escrito, 1896, uma obra que iria marcar a História, Der Judenstaat (O Estado Judaico) (...)
Herzl morre em 1905. Um judeu russo naturalizado inglês assume a causa. Para Chaüm Weizmann, ao contrário de Herzl, não se concebe a pátria judaica fora da Palestina. Brilhante investigador científico, dá uma ajuda preciosa ao esforço de guerra inglês ao conseguir realizar a síntese da acetona. Isso abre para ele inúmeras portas, especialmente a de Lloyd George, futuro primeiro-ministro. Ele já é amigo de Arthur Belfour, futuro ministro das Relações Exteriores. Propõe a eles a criação de um Estado-tampão judaico na Palestina sob proteção britânica, a melhor maneira de assegurar a defesa do Canal de Suez"

BUTTIN, Maurice. Imperialismos, sionismo e Palestina. In: O Livro Negro do Capitalismo, p. 135-136.