Pedacinhos do Conhecimento
Espaço destinado ao contato com a historiografia e com passagens clássicas das ciências humanas.
domingo, 24 de março de 2013
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
"Gramsci: uma introdução" por Valentino Gerratana
Político
e escritor. Uma nova luz sobre sua biografia e os conteúdos de sua obra foi
lançada pelos estudos realizados nos anos mais recentes. Depois de uma
juventude atormentada por doenças e apertos econômicos, transferiu-se em 1911
para Turim, graças a uma bolsa de estudos que lhe permitiu matricular-se na
universidade, na Faculdade de Letras e Filosofia. Apaixonou-se inicialmente
pelos estudos de Lingüística, sob a orientação do glotólogo M. Bartoli, mas em
seguida se ligou aos mais ativos movimentos literários e políticos da capital
piemontesa. Seus estudos universitários, porém, foram retardados por freqüentes
crises de esgotamento nervoso, e ele renunciará por fim a diplomar-se, para
empenhar-se cada vez mais no jornalismo militante (em dezembro de 1915 começou
a trabalhar na redação turinense de Avanti!, órgão do Partido Socialista
Italiano).
Sua atividade
jornalística se impõe à atenção geral não só pela qualidade do texto mas também
pela profundidade da pesquisa cultural. Neste sentido, tornou-se exemplar a
preparação de um número único redigido em fevereiro de 1917 por conta da
Federação da Juventude Socialista do Piemonte (La città futura), em que ao lado
de artigos originais de teoria e de propaganda socialista se alinhavam escritos
de Croce, Salvemini e A. Carlini. Neste período, a influência de Croce e da
polêmica antipositivista do idealismo italiano também se mostra na avaliação
entusiasmada da Revolução Russa de novembro de 1917, interpretada como
"revolução contra O Capital" (isto é, contra a versão determinista da
obra de Marx). Com estas diretrizes preparou e em seguida dirigiu, no pós-guerra,
o periódico L´Ordine Nuovo, publicado entre maio de 1919 e dezembro de 1920 com
o subtítulo de "publicação semanal de cultura socialista". Ligando-se
ao movimento turinense dos conselhos de fábrica, o periódico pretendia ser
tanto instrumento de investigação cultural quanto órgão de luta política. Esta
experiência se situava, numa perspectiva revolucionária, à esquerda do
movimento socialista da época, mas em conformidade com outros fermentos da
cultura italiana do período, como os que se referiam ao neoliberalismo de P.
Gobetti, que de fato julgou positivamente a obra do grupo.
Em 1921 participou do
Congresso de Livorno, que assinalou a cisão do Partido Socialista e a
constituição do Partido Comunista. Ainda em Turim, dirigiu o órgão do novo partido,
L´Ordine Nuovo, que se tornou um cotidiano (no qual também colaborou Gobetti,
como crítico teatral). Todavia, nos primeiros anos do novo partido sua
atividade foi condicionada pela direção de A. Bordiga, que, tendo organizado
uma facção nacional antes da cisão, havia obtido uma posição de destaque,
influenciando também grande parte do próprio grupo turinense de L´Ordine Nuovo.
Neste período, em maio
de 1922, antes do golpe de Estado fascista, partiu para Moscou, onde ficou até
novembro de 1923 como representante do partido italiano no comitê executivo da
Internacional Comunista. Em seguida se dirigiu a Viena, para preparar uma nova
série de L´Ordine Nuovo, que começou a sair quinzenalmente a partir de primeiro
de março de 1924. Pouco depois foi eleito para o Parlamento e pôde voltar à
Itália, empenhando-se na luta contra o fascismo e, dentro do partido, na ação
organizativa necessária para impor uma linha política diversa da bordiguiana,
que, por seu extremismo, havia entrado em rota de colisão com as posições
prevalecentes na Internacional Comunista.
A linha de Gramsci, que
reuniu em torno de si um novo grupo dirigente "centrista", prevaleceu
a seguir no III Congresso do Partido Comunista da Itália, realizado em Lyon, em
janeiro de 1926. Alguns meses depois, porém, suas relações com a Internacional
Comunista sofreram um primeiro abalo, com sua iniciativa de escrever uma
alarmada carta ao comitê central do Partido Bolchevique em razão das divisões
internas daquele partido. Mesmo criticando a oposição, a carta também trazia
reservas sobre os métodos da maioria (Stalin-Bukharin), e por este motivo
Togliatti, então representante em Moscou dos comunistas italianos, considerou
oportuno não entregá-la oficialmente. Daí nasceu uma viva polêmica entre Gramsci
e Togliatti, relevante sobretudo pela insistência por parte do primeiro na
necessidade de "apelar à consciência política dos companheiros russos e
indicar energicamente os perigos e as fraquezas que suas atitudes estavam por
determinar".
A precipitação dos
eventos na Itália o afastou, no entanto, desta polêmica: em 8 de novembro de
1926, depois das "medidas de exceção" do governo fascista contra os
oposicionistas, Gramsci foi detido apesar da imunidade parlamentar e enviado,
primeiramente, ao confinamento em Ustica e, depois, ao cárcere de Milão, para
ser submetido, junto com outros dirigentes comunistas, ao Tribunal Especial
para a Defesa do Estado. No julgamento, realizado em Roma entre maio e junho de
1928, foi condenado a 20 anos de reclusão. Destinado, para cumprir a pena, à
penitenciária de Turi (Bari), aí ficou até dezembro de 1933, quando por graves
motivos de saúde foi transferido, primeiro, para a enfermaria do cárcere de
Civitavecchia e, depois, sempre na condição de preso, para uma clínica privada
de Formia. Só em outubro de 1934 foi posto em liberdade condicional, mas
permaneceu na mesma clínica de Formia, não tendo condições de retomar a
atividade normal em razão da saúde comprometida. Morreu, enfim, na clínica
Quisisana, de Roma, para onde fora transferido sob vigilância desde a clínica
de Formia.
Sua vida no cárcere
também foi tornada amarga pelas difíceis relações estabelecidas com o partido
que havia dirigido antes da prisão. Em desacordo com a linha política adotada
no fim de 1929 sob pressão do Komintern, então em luta não só com o fascismo
mas também com a social-democracia (definida como "social-fascismo"),
se via em aberto conflito com a maioria dos outros comunistas presos em Turi, e
isto o havia induzido a fazer de seu isolamento a forma exclusiva da própria
existência. Explica-se assim por que sua situação não tenha sido então
discutida nos órgãos dirigentes ativos no exílio, com os quais suas relações
foram sempre indiretas (com a mediação do amigo economista P. Sraffa, que
trabalhava em Cambridge). Todavia, depois de 1934, com o abandono da propaganda
sobre o "social-fascismo" e o predomínio da política de unidade
antifascista, foram intensificadas as campanhas internacionais de imprensa para
pedir sua libertação.
À parte os
reconhecimentos provenientes dos contemporâneos no curso de sua atividade
(Gobetti, Prezzolini, Dorso), sua fama está ligada sobretudo à publicação, no
pós-guerra, dos escritos póstumos. Em 1947, a primeira edição das Cartas do cárcere (uma edição nova e
mais ampla foi publicada em 1965) teve uma enorme repercussão nos ambientes
culturais mais diversos. Seguiram-se os volumes extraídos dos Cadernos do cárcere, na edição
temática: O materialismo histórico e a
filosofia de Benedetto Croce (1948), Os intelectuais e a organização da cultura
(1949), O Risorgimento (1949), Notas sobre Maquiavel, a política e o Estato
moderno (1949), Literatura e vida nacional (1950), Passado e presente (1951).
Em vários volumes foram depois recolhidos os escritos jornalísticos do período
pré-cárcere. A ordem sistemática escolhida na primeira edição dos Cadernos, com
o agrupamento editorial das notas gramscianas por argumentos e temas
homogêneos, tornava mais imediatamente acessíveis os conteúdos da obra, mas não
revelava seus nexos internos e o fio condutor seguido pelo autor em seu
trabalho.
Esta foi, no entanto, a
tarefa que se propôs a edição crítica dos Cadernos do cárcere, publicada em
quatro volumes em 1975 sob os cuidados de V. Gerratana, segundo a ordem dos
manuscritos integrais assim como foram deixados pelo autor, mas com um amplo
aparato de notas e índices e com o cotejo das fontes utilizadas. Assim foi
possível seguir o ritmo de desenvolvimento da investigação gramsciana através
da primeira redação de notas registradas em cadernos mistos, depois retomadas,
e em alguns casos desenvolvidas na segunda redação dos cadernos
"especiais", a partir dos quais o autor se propunha compor ensaios
independentes relacionados entre si, mas não um trabalho orgânico de conjunto
(como parecia sugerir a primeira edição temática).
Ponto de partida da
investigação é a ordem de idéias esboçadas num ensaio sobre a questão
meridional escrito antes da prisão, com a análise da relação cidade/campo e das
alianças de classe na sociedade italiana das primeiras décadas do século. A
análise se amplia e se aprofunda no trabalho dos Cadernos com o estudo da
função dos intelectuais na história da Itália. É uma pesquisa complexa e
original, porque a noção de "intelectual",
em sua função de coágulo da formação de todo bloco histórico, é ampliada além
dos limites tradicionais, numa visão que estende o conceito mesmo de Estado,
entendido não mais só como "sociedade política", órgão de coerção
jurídica, mas como entrelaçamento de sociedade política e "sociedade civil",
em que a hegemonia de um grupo
social se exerce através de organizações privadas, como Igreja, sindicatos,
escolas e outros instrumentos de direção cultural.
Esta estrutura teórica,
que tem no centro o conceito de
"hegemonia", leva também a uma nova interpretação da queda das
comunas medievais e de sua incapacidade de superar a fase econômico-corporativa
do Estado, em razão do caráter cosmopolita dos intelectuais italianos e da
ausência, neles, de uma função nacional-popular. No Estado moderno, ao
contrário, o exercício da hegemonia permite às classes dominantes obter o
consenso das classes subalternas, seja com a energia das revoluções de tipo
jacobino, seja através de diferentes formas de "revolução passiva": com este termo, tomado de V. Cuoco,
é indicado um processo de revolução-restauração ou de "revolução sem
revolução", como aquele ilustrado na história italiana pelo Risorgimento,
em que os moderados conseguem exercer sua hegemonia sobre o Partido de Ação.
Nesta análise, também o
fascismo é considerado uma forma particular de revolução passiva; o fascismo
visto não só em seus aspectos repressivos mas também em seus esforços
econômico-sociais de modernização em relação ao fenômeno do americanismo e do
fordismo, outro veio explorado com constância analítica nos Cadernos. Neste
quadro historiográfico se insere a visão política de uma estratégia
revolucionária fundada na passagem da "guerra de movimento" e do
ataque frontal à "guerra de
posição" adequada às condições do Ocidente, em que o exercício da
hegemonia é confiado à conquista do consenso em todas as principais
articulações da sociedade civil.
Liga-se a tal
estratégia a reflexão sobre dois temas recorrentes nos Cadernos: o problema da
relação entre Maquiavel e Marx (e surge desta reflexão a idéia de um partido como moderno Príncipe) e a
perspectiva de um desenvolvimento do marxismo como filosofia da práxis em suas
relações com o senso comum e com as correntes culturais do mundo moderno. A
estreita conexão destes temas se mostra ainda mais evidente na sucessão dos
manuscritos originais tal como são reproduzidos na edição crítica, na riqueza
de suas implicações e dos problemas deixados em aberto pelo próprio autor. Por
isto, trata-se de temas que podiam servir de estímulo para novas pesquisas e de
fato foram discutidos longamente, mesmo em outros países.
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Valentino Gerratana
terça-feira, 20 de março de 2012
"Idi Amin no Pan-Óptico" Eulália Jordà-Poblet
Toda
a vida do gorila negro nomeado burlescamente de "Idi Amin" transcorreu
como um espetáculo para a população da cidade de Belo Horizonte.
Paradoxalmente, ele nunca conheceu seus edifícios por ser cativo de um
decadente presídio chamado zoológico.
Nessa peça, quase todos desfilam como figurantes, divertindo-se, mesmo que por ingenuidade, com a desgraça do grande símio condenado a cumprir o papel de bufão. Com sua morte, a tragicomédia interrompeu-se, deixando uma pergunta vir à tona: de onde teria vindo esse estrangeiro?
Sua documentação apresentou-se incompleta, como reportado em jornal local. Algo comum entre as vítimas de tráfico. Supõe-se que tenha nascido por volta de 1973 em algum lugar da floresta equatorial do Congo - lugar onde a proteção dos animais nunca foi prioridade -, de onde teria sido levado para um zoológico francês. De lá teria sido negociado como um escravo e trazido para Belo Horizonte.
Chegou a essa sua derradeira prisão, da qual nunca mais iria sair, com dois anos de idade. Cumpriu pena maior do que a máxima para os animais humanos que cometeram crimes gravíssimos: 39 anos.
Pela lei das probabilidades, sua mãe deve ter sido morta por caçadores, ocasião em que deve ter se agarrado ao corpo inerte, tornando-se presa fácil para os traficantes oficiais e não oficiais.
Essa história nebulosa é cuidadosamente omitida, criando-se o álibi de que o zoológico é um lugar importante para a "preservação das espécies".
Não só "Idi Amin" foi um dos sofridos bebês gorila afastados precocemente de suas mães, mas também "Dada" e "Cleópatra", falecidas com pouco tempo de chegadas à sociedade do espetáculo. Pudera! Como ele, tiveram que enfrentar o sequestro e as mudanças de cárcere para cárcere; a ausência do aleitamento materno - que costuma, em condições normais, chegar aos 3 anos de idade -; deficiências imunitárias geradas pelo estresse; a barbárie do transporte; o isolamento da sua sociedade de gorilas e da planície africana; o banzo; e, finalizando, a superexposição em ambiente estranho.
"Idi Amin", milagrosamente, sobreviveu, mas perdeu em cheio para o tédio, simbolizado por seu melancólico pneu sempre a tiracolo. Como os demais gorilas em cativeiro, tornou-se tímido, ensimesmado; apegou-se aos tratadores, numa espécie de síndrome de Estocolmo, aquela na qual a vítima, em uma estratégia de sobrevivência, identifica-se com seu captor.
A lógica dos zoológicos obrigou "Idi Amin" a viver em um pan-óptico, a se mover durante toda a sua vida em uma arena circular, onde, de qualquer ponto escolhido, o visitante inoportuno pudesse visualizá-lo. Colocado no centro de risos, caretas, sons incompreensíveis, diariamente, o gorila foi massacrado até tornar-se uma caricatura de si mesmo. Agora, com a cadeira de bobo da corte vaga, ainda querem trazer outro gorila para perpetuar o círculo vicioso dessa tradição nefasta.
Nessa peça, quase todos desfilam como figurantes, divertindo-se, mesmo que por ingenuidade, com a desgraça do grande símio condenado a cumprir o papel de bufão. Com sua morte, a tragicomédia interrompeu-se, deixando uma pergunta vir à tona: de onde teria vindo esse estrangeiro?
Sua documentação apresentou-se incompleta, como reportado em jornal local. Algo comum entre as vítimas de tráfico. Supõe-se que tenha nascido por volta de 1973 em algum lugar da floresta equatorial do Congo - lugar onde a proteção dos animais nunca foi prioridade -, de onde teria sido levado para um zoológico francês. De lá teria sido negociado como um escravo e trazido para Belo Horizonte.
Chegou a essa sua derradeira prisão, da qual nunca mais iria sair, com dois anos de idade. Cumpriu pena maior do que a máxima para os animais humanos que cometeram crimes gravíssimos: 39 anos.
Pela lei das probabilidades, sua mãe deve ter sido morta por caçadores, ocasião em que deve ter se agarrado ao corpo inerte, tornando-se presa fácil para os traficantes oficiais e não oficiais.
Essa história nebulosa é cuidadosamente omitida, criando-se o álibi de que o zoológico é um lugar importante para a "preservação das espécies".
Não só "Idi Amin" foi um dos sofridos bebês gorila afastados precocemente de suas mães, mas também "Dada" e "Cleópatra", falecidas com pouco tempo de chegadas à sociedade do espetáculo. Pudera! Como ele, tiveram que enfrentar o sequestro e as mudanças de cárcere para cárcere; a ausência do aleitamento materno - que costuma, em condições normais, chegar aos 3 anos de idade -; deficiências imunitárias geradas pelo estresse; a barbárie do transporte; o isolamento da sua sociedade de gorilas e da planície africana; o banzo; e, finalizando, a superexposição em ambiente estranho.
"Idi Amin", milagrosamente, sobreviveu, mas perdeu em cheio para o tédio, simbolizado por seu melancólico pneu sempre a tiracolo. Como os demais gorilas em cativeiro, tornou-se tímido, ensimesmado; apegou-se aos tratadores, numa espécie de síndrome de Estocolmo, aquela na qual a vítima, em uma estratégia de sobrevivência, identifica-se com seu captor.
A lógica dos zoológicos obrigou "Idi Amin" a viver em um pan-óptico, a se mover durante toda a sua vida em uma arena circular, onde, de qualquer ponto escolhido, o visitante inoportuno pudesse visualizá-lo. Colocado no centro de risos, caretas, sons incompreensíveis, diariamente, o gorila foi massacrado até tornar-se uma caricatura de si mesmo. Agora, com a cadeira de bobo da corte vaga, ainda querem trazer outro gorila para perpetuar o círculo vicioso dessa tradição nefasta.
segunda-feira, 12 de março de 2012
Rosa Luxemburgo e a Igreja Classista
"...os padres fulminam os trabalhadores que estão em greve e os opositores do Governo; e ainda mais, exortam-nos a suportar a pobreza e a opressão com humildade e paciência.
(...)
o clero, que se torna o porta-voz dos ricos, o defensor da exploração e opressão, põe-se a si próprio em flagrante contradição com a doutrina cristã. Os bispos e os padres não são os propagadores dos ensinamentos cristãos, mas os adoradores do Bezerro de Ouro e do chicote que açoita os pobres e indefesos.
(...)
todos sabem que os próprios padres tiram proveito do trabalhador, extraem-lhe dinheiro por ocasião do batismo, casamento e funeral.
(...)
A maior parte dos padres, de faces rosadas, curvam-se e saúdam cortesmente os ricos e poderosos, perdoando-lhes silenciosamente toda depravação e toda a iniquidade.
(...)
Os trabalhadores espantam-se de como na luta da sua classe pela emancipação vão encontrar nos servidores da Igreja inimigos e não aliados."
LUXEMBURGO, Rosa. O Socialismo e a Igreja.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Rosa Luxemburgo e o sentido burguês de toda burocracia
"Sem eleições gerais, sem liberdade ilimitada de imprensa e de reunião, sem livre enfrentamento de opiniões, a vida se estiola em qualquer instituição pública, torna-se uma vida aparente na qual a burocracia subsiste como único elemento ativo.
A vida pública adormece progressivamente, algumas dúzias de chefes, portadores de uma inesgotável energia e de um idealismo sem limites, dirigem e governam; entre eles, a direção é assegurada, na realidade, por uma dúzia de espíritos superiores, e a elite do operariado é convocada de tempos em tempos para reuniões, para aplaudir o discurso do chefe e votar unanimemente as resoluções propostas (...) Trata-se de uma ditadura, é verdade, não a ditadura do proletariado, mas a ditadura de um punhado de políticos, isto é, uma ditadura no sentido puramente burguês."
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quarta-feira, 23 de novembro de 2011
José de Alencar defendia a escravidão
"Se a escravidão não fosse inventada, a marcha da humanidade seria impossível, a menos que a necessidade não suprisse esse vínculo por outro igualmente poderoso. (...)
Desde as origens do mundo, o país centro de uma esplêndida civilização é, no seu apogeu, um mercado, na sua decadência, um produtor de escravos. (...)
Modernamente, os povos caminham pela indústria. São os transbordamentos das grandes nações civilizadas que se escoam para as regiões incultas, imersas na primitiva ignorância. O escravo deve ser, então, o homem selvagem que se instrui pelo trabalho. Eu o considero nesse período como o neófito da civilização."
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terça-feira, 11 de outubro de 2011
Francisco Iglésias comenta o Integralismo de Plínio Salgado
"Plínio Salgado (...) não era o chefe imaginado pela direita do país: arrogante nos momentos de êxito, era simples seguidor de ordens oficiais em momentos adversos. Assim terminou sua carreira, como deputado convencional. Não sem deixar marca profunda de seu pensamento, pouco original, mas eficaz na propaganda, empolgando largos setores da população por alguns anos, para depois consumir-se como político comum na Câmara dos Deputados. A Ação Integralista é episódio digno de nota na trajetória política de um povo que não conta com instantes excepcionais, em geral acomodado à ordem vigente. Exprimiu aqui a ascensão da direita no mundo, mas não conseguiu impô-la. Viveu intensamente de 1932 a 1937, para depois desaparecer. "
IGLESIAS, Francisco. Trajetória Política do Brasil 1500-1964. ed. Cia das Letras, p. 241, 1993.
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