sábado, 19 de março de 2011

Alan Moore "Rorschach e a condição humana"

"Olhei para o céu através da fumaça cheia de gordura humana e Deus não estava lá. A escuridão fria e sufocante prossegue eternamente, e nós estamos sós. Vivemos nossas vidas por não termos nada melhor para fazer. Inventamos uma razão depois. Nascemos do esquecimento, criamos crianças tão condenadas ao inferno como nós. Voltamos ao esquecimento. Não há mais nada. A existência é aleatória. Não tem nenhum padrão, salvo aquele que imaginamos depois de encará-la por muito tempo. Nenhum significado, salvo o que escolhemos impor. Este mundo sem leme não é moldado por vagas forças metafísicas. Não é Deus quem mata as crianças. Não é a sina que as esquarteja ou o destino que as dá de comer aos cães. Somos nós. Apenas nós."
MOORE, Alan. Watchmen.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Veríssimo e seu Analista de Bagé

"...diz que  o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.
- Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
- O senhor quer que eu deite logo no divã?
- Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
- Certo, certo. Eu...
- Aceita um mate?
- Um quê? Ah, não. Obrigado.
- Pos desembucha.
- Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
- Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope. 
- Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe.
- Outro...
- Outro?
- Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
- E o senhor acha...
- Eu acho uma pôca vergonha.
- Mas...
- Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!
 
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Analista de Bagé. Porto Alegre: ed. L&PM. 101.ed., 1997, p. 7-8.